Bruno Freitas
@viuitauna
A ação civil pública que determina a Prefeitura a seguir o Comitê Estadual Extraordinário COVID-19 e voltar atrás na flexibilização dos restaurantes, caiu como um balde de água fria para a Associação de Bares, Restaurantes, Hamburguerias e Sorveterias de Itaúna (Abrehas). Criada no começo do ano, a entidade representativa se viu em meio a pior crise do setor, com 104 bares fechados, oito estabelecimentos decretando falência e mais de 200 funcionários demitidos, além de 150 profissionais freelancers dispensados.
Presidente da associação, o empresário Alexandre Muzzi, proprietário de um bar e uma fábrica de cerveja artesanal, estima que a maioria dos bares – que seguem sem previsão de reabertura –, não conseguirá retomar as atividades. A situação é complicada também para restaurantes que aderiram ao funcionamento a la carte, após a publicação da portaria n° 5.816, em vigor desde segunda-feira (25), e terão de voltar atrás após a recomendação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ter sido acatada pela Justiça.
A solução nesse momento, aponta Muzzi, seria reabrir os estabelecimentos com 50% de funcionamento e um termo de responsabilidade, seguindo normas de higienização e espaçamento entre as mesas, proposta enviada ao Município. Confira a entrevista do presidente da Abrehas ao @viuitauna:
Na quarta-feira (27) a associação se reuniu com o prefeito Neider Moreira (PSD), receoso de liberar os bares nesse momento devido as recomendações do Ministério Público. O que ficou definido pela Abrehas? A associação levará adiante a liminar judicial para a reabertura dos bares?
Nesse momento desistimos dessa ação, uma vez que o MPMG interviu. Entendemos que essa ação não faria sentido. Não há muito o que fazer. Entendemos que o prefeito vem com boa vontade com a classe. A proposta dele foi dar um passo de cada vez. Mesmo abrindo os restaurantes com restrição a la carte, uma vez que 80% dos restaurantes são self-service. Ou seja: foi um decreto (última portaria municipal) que não ajudou em quase nada. Ainda assim a Prefeitura foi obrigada a voltar a trás. A preocupação é gigante. Não temos horizonte.
A ação civil pública acatada pela Justiça teve repercussão entre os restaurantes que adotaram o funcionamento a la carte da portaria n° 5.816?
Foi horrível, uma tragédia para todo mundo. Mesmo a la carte, quem se adaptou para a nova situação, teve prejuízo, uma vez que os comerciantes tinham negociação com o dono do imóvel. Quem decidiu abrir perdeu isso que tinha. Foi uma tragédia maior ainda o comerciante ter aberto, se adequado ao la carte e depois a ação voltar atrás.
Restaurantes, lanchonetes e hamburguerias estão autorizadas a funcionar, dada as restrições. A situação dos bares é pior. Como se encontram os bares em específico?
A maioria, acredito, não conseguirá reabrir. O número de desempregados é gigante. Só na Av. Jove Soares (Prainha) temos quase 50 bares. Imagina se 25 não conseguir voltarem. Temos Pará de Minas que irá retomar o funcionamento dos restaurantes. O que pode acontecer: a pessoa sai, ganha o pouco do dinheiro que está circulando na cidade e vai gastar fora. Além disso, a maioria da mão de obra é free-lancer, que trabalham no pico de sexta-feira e sábado. Esse tipo de profissional está sem garantia alguma. Ele não tem acerto a ser feito nem fundo de garantia a receber. Muitos deles passam necessidade. Recebo telefonema desse pessoal o dia todo, pedindo socorro, cesta básica. O negócio está dramático.
Uma categoria em ascensão é a dos food-trucks, que também foi incluída na flexibilização. Qual a avaliação desses profissionais?
Os food-trucks não pertencem a associação, mas não tenho visto esse pessoal na rua. Todos precisam da renda. Para esse pessoal é menos mal, porque pega o carro dele, recolhe. Não tem aluguel, energia e água para pagar. Claro que não devem ser desamparados. Mas dos males, o menor.
Com todas essas dificuldades para os bares e restaurantes, qual é a solução até a situação normalizar?
O momento seria de abrir com cautela, com 50% de funcionamento, proposta que enviamos a Prefeitura. Abrir com todas as normas de higienização, espaçamento adequado, self-services com luvas para poder servir. Toda essa cautela. Inclusive minha proposta, como presidente da associação, foi assinar um termo de responsabilidade para funcionar dessa forma. Sabemos da gravidade da situação. Ninguém quer abrir de forma desordenada. Queremos nos manter até passar essa pandemia, nos mantermos vivos, desempregando o mínimo possível de funcionários.
A Abrehas já tem uma estimativa do prejuízo financeiro e demissões do setor em virtude da quarentena?
Ainda não conseguimos fazer um levantamento financeiro. Agora, temos 150 funcionários free-lancer dispensados, 66 em férias forçadas, oito estabelecimentos em falência, número que daqui para frente vai explodir. Restaurantes fechados parcialmente são mais de 40 e hamburguerias, mais de 30. Pizzarias, 15, sorveterias, 20. Funcionários demitidos, mais de 200. Bares fechados são 104 que conseguimos levantar até agora, fora os bares de bairros, que não conseguimos entrar em contato. Estimo que esses números são maiores ainda. É desastroso.
Como surgiu a ideia da associação e quantos membros participam?
Temos seis pessoas na diretoria. A ideia foi minha e de um advogado, há quatro anos, juntamente com um colega do ramo de comida japonesa. Coincidentemente as conversas foram retomadas há quatro meses e o projeto ganhou corpo durante a pandemia. Parece que fizemos a associação para o cenário da COVID-19, mas não foi assim. As conversas vem de quatro anos.