Temporal volta a atingir a Jove Soares e sem obras, prejuízos já previstos por Neider em 2019 se acumulam

Bruno Freitas
@viuitauna

Em fevereiro de 2019, um temporal inundou a Av. Jove Soares e o prefeito Neider Moreira (PSD), agora candidato à reeleição, admitiu ao @viuitauna que “enquanto não for feita a obra de manejo de águas pluviais na via, isso vai se repetir”. Em mais uma noite de domingo, como há 21 meses, a cena se repetiu. Desta vez, acompanhada por rajadas de vento e chuva de granizo que, em poucos minutos, se transformaram em uma forte correnteza acima do leito do Córrego do Sumidouro, arrastando automóveis, motocicletas e tudo o que havia pela frente.

Medida que poderia ter sido adotada para amenizar as enchentes, que se intensificam a cada ano, o projeto para a construção de um canal paralelo ao curso d’água existente sob a Prainha, por outro lado, não avançou. Os prejuízos ainda sequer foram calculados por comerciantes e a população.

Próximo à esquina da Rua Manoel Corrêa, no Piedade, pelo menos dois carros ficaram submersos e tiveram perda total. Em um edifício a água invadiu um escritório de advocacia e moveu os carros de uma garagem. Uma hamburgueria teve de levar clientes, incluindo crianças, às pressas para o segundo andar. Nesta segunda-feira (9), quando a reportagem visitou o local, o cenário era de desânimo.

“A água invadiu geladeiras, freezer, computador, sofás e manchou a pintura da loja. Teremos de ajudar três funcionários que tiveram as motos arrastadas. A Defesa Civil veio, ficou cinco minutos e culpou a previsão do tempo e o governo Eugênio Pinto pelo problema das enchentes”, desabafou uma funcionária.

ASSISTA AO VÍDEO DO MOMENTO DA ENCHENTE:

Os impactos daquela que pode ser considerada a pior tempestade da história de Itaúna também deixaram estragos por toda a cidade. Árvores caíram sobre diversas ruas e bairros ficaram sem energia elétrica ao longo de todo o dia.

No bairro Itaunense, o muro de uma garagem desabou, destruíndo veículos. Um consultório de uma clínica odontológica na Av. Manoel da Custódia, no Novo Horizonte, foi tomado pela lama. No Tropical Tênis Clube, no Cerqueira Lima, o alambrado de uma quadra ficou retorcido pela velocidade do vento e parte do mobiliário acabou lançado dentro de uma das piscinas. Boa parte do muro do condomínio de residências de luxo Mont Vert, em Santanense, veio abaixo. Na rua Silviano Brandão, no Cerqueira Lima, um morador gravou o momento em que uma caçamba de entulho era arrastada pela força da água.

“Essa é a terceira vez que isso acontece e nunca temos a solução”, reclama a proprietária da clínica odontológica, Elza Andrade. “Dessa vez, o prejuízo ficou mais ou menos em R$ 18 mil”, estima.

Árvores caíram sobre diversas ruas e bairros ficaram sem energia elétrica. Foto: Divulgação/Prefeitura de Itaúna

PROJETO DE CANAL Em julho de 2017, uma comissão formada por servidores do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) e das secretarias municipais de Infraestrutura e Regulação Urbana realizou uma vistoria na Jove Soares que detectou pontos de estreitamento, tubulações, vigas e um banco de areia no Córrego do Sumidouro, o que contribuía para as inundações na área. A equipe também iniciou levantamentos para o projeto de construção de um canal paralelo ao leito.

Na tentativa de captar recursos para realizar as obras de alargamento do córrego, a Prefeitura inscreveu proposta no Programa Avançar – Mobilidade Urbana, do Ministério da Cidades. Na ocasião, o prefeito Neider Moreira (PSD) afirmou que o projeto teve aprovação do Ministério de Desenvolvimento Regional, mas o Programa Avançar foi suspenso pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O financiamento de R$ 12 milhões previa um prazo de pagamento de 20 anos.

Questionado pelo @viuitauna na noite desta segunda-feira (9) se houve avanço no andamento do projeto, Neider visualizou as mensagens enviadas pela reportagem, porém não retornou.

Muro desabou sobre garagem de edifício no Itaunense, destruindo veículos. Fotos: Divulgação/Redes sociais

HISTÓRICO DE ENCHENTES O problema das inundações da Jove Soares é antigo e piora, apesar de medidas paliativas adotadas pela Prefeitura. Em 12 de junho de 2017, Dia dos Namorados, choveu 50 milímetros em cerca de 40 minutos, causando prejuízos à moradores e comerciantes, a exemplo do que ocorreu neste domingo (8).

A situação, que já havia se repetido por pelo menos outras duas vezes em 2017, acende o alerta para o problema da impermeabilização do solo na construção civil e a captação da água da chuva no Córrego do Sumidouro, a partir das ruas do Centro e nove bairros adjacentes. Colaboram para as inundações o lixo descartado fora dos locais e horários de recolhimento, com entupimento de bueiros e canalizações.

“Também contribui para o rápido acúmulo de água a condição de a avenida estar localizada numa baixada, área plana cercada por elevações. A grande quantidade de construções diminui a capacidade de absorção, assim como o asfalto que impermeabiliza o solo e aumenta o fluxo e a velocidade com que o volume pluviométrico chega à avenida”, declarou a Prefeitura de Itaúna, em nota, na época.

Na Av. Manoel da Custódia, proprietária de clínica odontológica alega ter tido prejuízo de R$ 18 mil

OUTRO LADO
Respostas oficiais sobre a tempestade deste domingo

Prefeitura de Itaúna
No início da manhã, a Prefeitura divulgou nota afirmando que realizou limpeza e reparos desde a noite nos diversos pontos que sofreram estragos. “Mesmo com o alto volume pluviométrico registrado, pontos como as avenidas Dr. Walter Mendes Nogueira e São João suportaram de forma eficiente a vazão da água. O trabalho preventivo coordenado pela Defesa Civil e parceiros ao longo do ano ajudaram a diminuir ocorrências de maior gravidade. Cidades da região também sofreram diversas avarias em decorrência do mesmo fenômeno meteorológico”.

Cemig
Registrou um aumento significativo no número de atendimentos emergenciais na região. A concessionária afirma ter mobilizado imediatamente equipes para restabelecer o fornecimento de energia aos clientes afetados. “As equipes trabalharam inclusive durante a madrugada no reparo das estruturas que foram danificadas por árvores, telhas e objetos que atingiram a rede elétrica”.

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