Dois anos após denúncia de Alexandre Campos, Neider e Paulo de Tarso são acusados por advogado que apoia Hakuna de cobrar “contribuição de campanha”

@viuitauna

Uma denúncia feita em abril de 2018 pelo vereador e hoje presidente da Câmara Municipal de Itaúna, Alexandre Campos (DEM), reverbera na véspera das eleições. Na ocasião, o parlamentar subiu à tribuna da Casa para acusar o prefeito e agora candidato à reeleição, Neider Moreira (PSD), de se reunir com secretários para pedir à cargos comissionados e agentes políticos da Prefeitura 3% do salário a título de “contribuição de campanha”. O valor, aponta Campos em uma gravação da reunião plenária, era descontado em folha de pagamento ou doação direta via envelopes, caracterizando, nas palavras dele, “apropriação indébita”.

Então na oposição, o vereador solicitou que a Câmara abrisse investigação e disse que iria à Polícia Civil denunciar a suposta prática, embora o órgão afirme que não tenha recebido qualquer representação contra Neider.

“Já critiquei muito o secretário Paulo de Tarso, mas foi o único secretário que não conversou, os demais secretários todos conversaram. Se o dinheiro é do PMDB e tem que ser contribuição partidária, tem que ir para o PMDB, isso é estatutário. Se gasta mais ou menos de folha de pagamento de cargo comissionado e agente político, cerca de R$ 800 mil mês, isso em dois anos, o prefeito irá juntar cerca de R$ 700 mil, então a reeleição dele tá garantida. Isso é um caso sério, por isso que estou indo na Polícia Civil, porque é um caso de polícia”, disse Campos na ocasião.

O caso voltou à tona no último dia 3, em nova denúncia do advogado Leonardo Lopes, que apoia publicamente o ex-assessor de Neider, também vereador e candidato à prefeito, Márcio Gonçalves Pinto, Marcinho Hakuna (PSL). Lopes afirma que além do prefeito, o secretário Municipal de Regulação Urbana, Paulo de Tarso, que ficou de fora da denúncia de Campos, exigiu o pagamento de cargos comissionados e agentes políticos da Prefeitura com o objetivo de levantar fundos para a campanha eleitoral de 2020. “Inclusive ameaçando os mesmos de exoneração caso não arquem com tal contribuição”, sustenta Lopes no documento, remetido, segundo ele, ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

ASSISTA A DENÚNCIA DE ALEXANDRE CAMPOS NA CÂMARA:

ÁUDIO DE REUNIÃO A informação apurada pelo @viuitauna é de que um ex-servidor gravou uma reunião em que Tarso fez as cobranças, questionando o porque de determinadas pessoas não estarem cumprindo com os supostos repasses financeiros. Nas transcrições apresentadas na denúncia, o qual a reportagem teve acesso, o secretário teria afirmado que o repasse seria “tipo um dinheiro na cueca”. Servidores presentes no encontro então alertam Tarso, afirmando que a prática poderia ser considerada caixa dois. “Isso é caixa dois! Isso é considerado por lei caixa dois”, aponta um dos citados.

De acordo com o advogado, o pagamento das exigências estaria sendo realizado por meio de envelope, a fim de que não fossem rastreadas, sendo que, em caso de não pagamento, “o próprio secretário emitia cobrança para o servidor”, diz. Lopes aponta ainda que a prática seria realizada há pelo menos dois anos, com objetivo de levantar R$ 700 mil para a campanha, mesmo valor apontado por Alexandre Campos em 2018.

“Fiz a representação ao MPMG, com áudio. Esta denúncia já havia sido feita na Câmara pelo vereador Alexandre (Campos). Tenho outra denúncia com provas”, afirmou Lopes ao @viuitauna nesta segunda-feira (9).

OUTRO LADO Questionada sobre as declarações do advogado, a Prefeitura de Itaúna afirmou, nesta segunda, que protocolar denuncia não quer dizer que ela será aceita pelo MPMG.

Novamente procurada na manhã desta terça-feira (10) para que Neider e Paulo de Tarso se manifestassem sobre o teor das afirmações do apoiador de Hakuna, a Prefeitura retornou logo após a publicação da matéria, reiterando o que afirmou ontem e sustentando que a denúncia é fake news. “A Prefeitura de Itaúna lamenta o protocolo de uma denúncia e sua divulgação em um portal de fofoca onde o responsável é indiciado por corrupção. É obviamente uma fake news de cunho eleitoral. Caso a denuncia seja aceita, as partes se manifestarão nos autos do processo”, afirma, se referindo a uma página de notícias do Facebook que divulgou a denúncia inicialmente.

Paulo de Tarso, ainda segundo a assessoria de comunicação do Poder Executivo, se pronunciará apenas se o processo for realmente aberto.

O vereador Alexandre Campos justifica que deixou de protocolar a denúncia em 2018 por não ter obtido elementos probatórios. “A pessoa que me ligou anonimamente não apresentou nada que comprovasse. Acredito por ter feito a denúncia, ela pode ter ficado com medo de retaliações. Sem comprovação não pude dar prosseguimento”. Ainda de acordo com o atual presidente da Câmara Municipal, o Poder Legislativo não investigou o caso por falta de provas. Campos disse ainda desconhecer a nova denúncia.

Para Marcinho Hakuna, a denúncia do advogado está bem fundamentada e com provas. “O fato do denunciante me apoiar, não me faz parte da denúncia, portanto não há o que declarar. Deixemos por conta da polícia e do judiciário”, afirma.

A Polícia Civil alega que não recebeu qualquer pedido de investigação por parte de Alexandre Campos. “A PCMG informa que até o momento não recebeu nenhuma denúncia de suposta obtenção de vantagem indevida envolvendo o chefe do Poder Executivo Municipal em Itaúna, na região Centro-Oeste do estado”.

O MPMG afirma que retornará o contato da reportagem nesta quarta-feira (11).

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