A delegacia de Polícia Civil de Itaúna concluiu nesta quarta-feira (5) o inquérito que apurou crime de racismo cometido contra a vereadora Edênia Alcântara (PDT). Dois homens, de 44 e 48 anos, foram indiciados de acordo com o artigo 2º da Lei 7716, que trata de condutas discriminatórias e preconceituosas, afirma a Polícia Civil. O caso foi denunciado pela parlamentar por meio das redes sociais, no início de junho. Na ocasião, Edênia disse que procurou a delegacia para prestar queixa de crimes de injúria e racismo, além de violência política de gênero.
Segundo o delegado responsável pelas investigações, Leonardo Pio, os atos discriminatórios foram cometidos por meio de grupos de WhatsApp, nos quais os suspeitos “não apenas ofenderam a parlamentar, mas também proferiram ofensas contra pessoas que compartilham da mesma cor de pele”.
“Os indiciados responderão pelo crime previsto no artigo 2º da Lei 7716, que trata de condutas discriminatórias e preconceituosas. A PCMG reforça o compromisso em combater crimes de ódio e ressalta que tais práticas são inaceitáveis e serão devidamente punidas”, afirma.
ENTENDA O CASO À época de denúncia, a vereadora disse ao @viuitauna que as queixas foram registradas contra duas pessoas de direita de Itaúna. Os ataques, acrescenta, ocorreram via WhatsApp, são recentes e antigos. Os nomes dos envolvidos, porém, não foram informados à reportagem.
A vereadora alegou que as violências que vem sofrendo são “ameaças físicas, humilhações e interrupção de fala”, as qualifica “como um mecanismo covarde que fere os valores democráticos” e diz que não permitirá mais esse tipo de situação. Um inquérito policial foi instaurado, resultando no indiciamento dos suspeitos.
Procurada nesta quarta-feira, a vereadora emitiu nota sobre o caso na manhã desta quinta-feira (6) – leia a seguir:
“Nós, pessoas pretas, convivemos com o racismo desde a nossa infância. Quando chega em determinado momento das nossas vidas, infelizmente a gente normaliza certas falas e situações. As vezes por medo de denunciar ou por falta de apoio. A minha vida toda enquanto mulher preta e periférica, o racismo me feriu, me impediu e trouxe medo. Mas a partir do momento que me tornei uma pessoa pública, no cargo de vereadora, o racismo começou a ser ponto inicial para críticas e ofensas relacionadas aos meus posicionamentos e pautas políticas.
Eu sei que sou uma vereadora e que receberei críticas como qualquer outro político. Mas racismo não é crítica, não é opinião. Demorei pra denunciar por medo e por insegurança. Demorei a denunciar por questões psicológicas que me afetaram profundamente. Não só pelo racismo, mas por toda violência política de gênero que venho sofrendo desde o início do meu mandato.
Como por exemplo, a vez que fui agredida com palavras e ofensas por um grupo de pessoas ao sair da Câmara Municipal, após um reunião plenária. Na época eu estava grávida de seis meses e foi no primeiro mês de mandato. Uma das falas das pessoas presentes foi: “preto quando não caga na entrada, caga na saída“, e palavras como “vadia” e “vagabunda”. Mas eu não consegui denunciar por não ter filmagens dos autores e por estar psicologicamente muito abalada.
Minha casa começou a ser vigiada e compartilharam fotos do local que estava morando, em grupos de WhatsApp. Isso são alguns relatos de traumas e dores que carrego e que me afetam profundamente.
A minha decisão de denunciar um dos ataques racistas foi a confiança da justiça ser feita. E que ninguém mais passe por situações como essas. Principalmente mulheres, e mulheres pretas . Que as pessoas reconheçam que RACISMO É CRIME, o racismo mata, o racismo adoece a vítima.
Espero que a justiça seja feita, como o inquérito já foi concluído. Agora será encaminhado para o Ministério Público. Agora aguardar o parecer do MP”.