Alvo de denúncia de dois vereadores na Câmara Municipal e críticas nas redes sociais, a peça infantil Chapéuzinho Vermelho, apresentada em duas escolas de Itaúna nos dias 16 e 17 de agosto, “foi julgada sem que as pessoas tenham assistido a peça”, argumenta a companhia O Trem Cia de Teatro. Dizendo-se consternado com o que chama de “irresponsabilidade” na disseminação de informações falsas e “tentativa de cancelamento” da apresentação, o grupo responsável emitiu nota afirmando que o objetivo da obra é apresentar diferentes pontos de vista das personagens, assumindo diferentes versões da mesma história. A Prefeitura de Itaúna disse que acompanha os detalhes do caso para definir quaisquer ações necessárias. Já a Fundação ArcelorMittal, que promove a peça por meio do programa Diversão em Cena, lamentou o ocorrido e disse que busca entender com todas as partes o ocorrido.
“Nesta fábula, que é universal, nunca foi um problema, em nenhum tempo e local, que o Lobo Mau se vestisse de Vovozinha e esta foi a premissa que utilizamos para propor um jogo cênico onde o elenco se reveza em diversos papéis”, justifica a O Trem Cia de Teatro.
De acordo com os idealizadores, na peça todos querem fazer o papel da Chapeuzinho por ser a protagonista. A releitura teria então a intenção de incentivar o senso crítico das crianças.
“Neste espetáculo e em todos os nossos trabalhos, defendemos a importância dos espaços democráticos de diálogo em que as crianças não sejam subestimadas em suas percepções de si mesmas e da realidade”.
A companhia teatral repudiou tentativas de cancelamento das apresentações em Itaúna e apontou ainda que, apesar de a peça ter sido interpretada por algumas pessoas através de um único viés, defende a liberdade de escolha em todas as circunstâncias, sem que se fira a integridade do outro – leia a nota completa a seguir.
COBRANÇA NA CÂMARA No último dia 17, os vereadores Ener Batista (PSL) e Kaio Guimarães (PSC) divulgaram vídeo nas redes sociais afirmando que foram procurados por pais contrariados com a apresentação da peça no bairro Cidade Nova e cobraram um posicionamento da Secretaria Municipal de Educação. Segundo Kaio, os pais relataram que na apresentação, a personagem Chapéuzinho “poderia ser quem ela quiser”.
“Será que isso traz uma confusão na cabeça das crianças?”, questionou Kaio, que dois dias depois fez outra publicação, sustentando que a apresentação foi paralisada.
No vídeo, Kaio diz que foi atacado e o episódio serviu de motivação política para ele.
PREFEITURA ACOMPANHA CASO A Prefeitura de Itaúna sustenta que a peça traz uma releitura do conto mundialmente conhecido, sendo financiada pela ArcelorMittal, com curadoria séria e responsável, realizada por uma “equipe de profissionais capacitados que buscam levar ao público de suas peças, especialmente nas escolas, trabalhos adequados a cada faixa etária, de modo a entreter e divertir a todos”. Por causa das manifestações acerca do enredo da peça em Itaúna, o Município afirma que está acompanhando os detalhes do que foi alegado para, a partir daí, definir quaisquer ações.
“Em vista das diversas manifestações que ocorreram acerca do enredo da peça, estamos acompanhando os detalhes do que foi alegado e, a partir disso, definiremos quaisquer ações necessárias”, afirma a Prefeitura de Itaúna.
POSICIONAMENTO DA CIA DA O TREM CIA DE TEATRO:
“A Companhia de Teatro O Trem é a responsável pela criação do espetáculo Chapeuzinho Vermelho, reconhecido como um trabalho de excelência por público e profissionais da área de diversos estados brasileiros por onde circulou.
O grupo declara-se consternado com a irresponsabilidade de indivíduos, políticos e veículos de mídia na disseminação de informações falsas e difamação desta obra teatral, afetando diretamente a reputação da companhia e dos integrantes dela.
Nesta fábula, que é universal, nunca foi um problema, em nenhum tempo e local, que o Lobo Mau se vestisse de Vovozinha e esta foi a premissa que utilizamos para propor um jogo cênico onde o elenco se reveza em diversos papéis.
O objetivo da peça é apresentar os diferentes pontos de vista das personagens, assumindo diferentes versões da mesma história. Por exemplo, o Lobo se defende dizendo que todas as suas más ações foram motivadas pela fome. A Mãe da Chapeuzinho alega que enviou a filha sozinha pela floresta porque estava sobrecarregada com afazeres da casa e tinha urgência em enviar os doces para a Vovozinha.
Na repercussão que aconteceu em Itaúna, as pessoas julgaram a peça sem ter assistido, apegando-se a uma informação isolada sobre a cena onde os atores vão decidir quem fará a Chapeuzinho Vermelho. Na peça, todos querem fazer o papel da Chapeuzinho por ser a protagonista. Contudo, um ator acaba ganhando o papel quando explica que se identifica com o espírito aventureiro da menina que vai sozinha pela floresta e pela sua coragem ao enfrentar o Lobo Mau. Mas, ao longo da peça, atrizes e atores se revezam no papel da Chapeuzinho e em todos os outros papéis, a fim de experimentarem todos os pontos de vista. Assim, a peça explora muitas outras possibilidades de atuação quando o elenco interpreta homens, mulheres, jovens, velhos, bebés, animais, e até mesmo objetos inanimados como o Armário e a Porta da casa da Vovó, que também relatam suas versões da história durante a chegada do Lobo no local.
A nossa releitura de Chapeuzinho Vermelho tem a intenção de incentivar o senso crítico das crianças, pois acreditamos que todos têm o direito de gostar ou não das motivações das personagens, acreditar ou não em cada versão apresentada, concordar ou não com as opiniões dos outros. Neste espetáculo e em todos os nossos trabalhos, defendemos a importância dos espaços democráticos de diálogo em que as crianças não sejam subestimadas em suas percepções de si mesmas e da realidade.
A respeito das tentativas de cancelamento das nossas apresentações na cidade de Itaúna, declaramos nosso repúdio a qualquer ato de censura, preconceito e discriminação. Apesar da peça ter sido interpretada por algumas pessoas através de um único viés, reafirmamos que defendemos a liberdade de escolha em todas as circunstâncias que não fira a integridade do outro, por isto, usamos o próprio teatro como metáfora da nossa possibilidade de sermos o que quisermos e continuarmos sendo respeitados.
Deixamos aqui o convite para que as pessoas conheçam este e outros trabalhos da O Trem Companhia de Teatro, empresa atuante há 17 anos no mercado brasileiro e internacional e sempre comprometida com a excelência artística e o respeito na sua relação com o público”.
NOTA EMITIDA PELA FUNDAÇÃO ARCELORMITTAL:
Que ridículo as cabeças das crianças são extremamente plásticas.