“Não me leve a mal, hoje é carnaval!”. Muita gente espera esse momento para cair na folia ou encarar um barzinho com uma turma de amigos. Nessa hora, nada como uma cervejinha gelada para hidratar o corpo e espantar o calor. A má notícia é que essa bebida refrescante cumpre justamente a função contrária: ela pode estimular a desidratação. O álcool intensifica a produção de urina e a perda de líquidos do corpo. “Ele inibe a geração de vasopressina, também conhecida como hormônio antidiurético (ADH), responsável por conservar água nos rins e evitar que a urina fique excessivamente diluída. Quanto maior o teor alcoólico, menor é a produção de ADH no corpo”, afirma a endocrinologista Alessandra Rascovski.
Após o consumo de álcool, de acordo com especialista, ocorre um aumento da diurese, ou seja, da secreção de urina.
“A sensação de ressaca após a ingestão de grandes quantidades da bebida também está ligada à desidratação. Assim como a redução do ADH, que atrapalha a absorção de água pelas células da parede intestinal. Quando associado à transpiração excessiva, esse quadro pode se tornar ainda mais grave”.
Segundo dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), para um consumo moderado de álcool, a ingestão diária deve ser no máximo de duas latas de cerveja ou duas taças de vinho para homens e uma lata de cerveja ou uma taça de vinho para mulheres e idosos.
A hidratação é essencial para o funcionamento do corpo, contribuindo para regular a temperatura, transportar nutrientes e oxigênio, eliminar toxinas, manter a função renal, melhorar a digestão e estimular a saúde da pele. A cerveja, por possuir um teor alcoólico menor quando comparado a destilados, como gin, vodka, cachaça e outros, estimula o consumo excessivo.
“Isso faz com que as pessoas acabem ingerindo grandes quantidades, ficando desidratadas por mais tempo”, aponta a endocrinologista.
COMO IDENTIFICAR SE O CORPO ESTÁ DESIDRATADO?
A desidratação ocorre quando a pessoa perde mais líquido do que recebe. No entanto, ela pode acontecer sem que a pessoa perceba. Por isso, é essencial saber identificar os sinais:
- Sede excessiva: um dos primeiros sinais de que o corpo precisa de mais água.
- Boca e pele secas: a falta de hidratação reduz a produção de saliva e deixa a pele menos elástica.
- Urina escura e em menor quantidade: a urina concentrada e com coloração mais escura é um indicativo de desidratação.
- Cansaço e tontura: a redução de líquidos no corpo pode causar fraqueza e sensação de desequilíbrio.
- Dor de cabeça: a desidratação afeta o fluxo sanguíneo e pode provocar dores de cabeça.
- Batimentos cardíacos acelerados: a desidratação no organismo pode sobrecarregar o coração.
- “Ao notar esses sinais, aumente a ingestão de água e, em casos mais graves, procure um médico”, alerta a diretora clínica.
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DICAS PARA SE MANTER HIDRATADO Rascovski explica que em dias muito quentes, é importante ingerir líquidos hidratantes, como a água, bebidas isotônicas, sucos naturais e água de coco. “A quantidade ideal varia de acordo com o peso e estilo de vida da pessoa. Mas a média, de forma geral, é ingerir cerca de dois litros por dia”. No entanto, apesar da possibilidade de desidratação, isso não quer dizer que seja proibido tomar um copo de cerveja em momentos de lazer. “Sabe aquela máxima: mais é menos? Nessa hora, o ideal é intercalar a ingestão de cerveja com outras bebidas hidratantes”.
A endocrinologista ressalta ainda a importância de evitar locais muito abafados e fechados, além de manter a alimentação, que pode incluir comidas leves e frutas ricas em água, como melão, melancia, mamão papaia, morango e abacaxi.
“O álcool ingressa na corrente sanguínea por meio do estômago e se estiver cheio, evitará que a substância seja absorvida com mais rapidez”, conclui.
E MAIS…
Abuso de álcool é preocupação crescente
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o abuso de álcool é uma preocupação crescente no Brasil e no mundo. Relatório revelou que 38% dos bebedores atuais — aqueles que consumiram qualquer bebida alcoólica nos últimos 12 meses — praticaram o chamado “beber pesado episódico”, definido como a ingestão de pelo menos 60 gramas de álcool puro em uma ou mais ocasiões. Esse padrão de consumo eleva significativamente o risco de dependência química, uma condição que, segundo a OMS, afeta cerca de 400 milhões de pessoas globalmente.
Além disso, o abuso de álcool está diretamente relacionado a graves problemas de saúde pública. Em 2019, aproximadamente 1,6 milhão de mortes foram atribuídas a doenças crônicas não transmissíveis associadas ao consumo de álcool. Outras 724 mil mortes ocorreram devido a lesões, incluindo acidentes de trânsito, autolesões e episódios de violência interpessoal.