Maio Laranja: famílias têm papel importante para evitar crimes envolvendo crianças e adolescentes

Neste domingo (18) é Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, oportunidade para mobilizar, sensibilizar, informar e convocar a sociedade a participar da defesa dos direitos desses brasileiros. O mês de maio também ganhou a cor laranja, criando uma agenda de alerta. Com a expansão do uso da internet entre crianças e adolescentes, cresceram também os crimes cibernéticos contra esse público, que se tornaram mais sofisticados e difíceis de detectar.

Para se ter ideia da gravidade do tema, três em cada dez crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de todo o Brasil (29% do total) já enfrentaram situações ofensivas ou discriminatórias na internet, segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024. Dentro deste contexto, uma passeata em Itaúna mobilizará a comunidade, contra a pedofilia, neste domingo. A mobilização ocorrerá a partir das 9h, com saída da Praça Padre João Ferreira (Pracinha da Rádioclínica) em direção ao Parque Ecológico Cordovil Fonseca, no bairro Cerqueira Lima.

Abusos sexuais virtuais, aliciamento, exposiço indevida e cyberbullying são algumas das formas de violência que afetam milhares de jovens brasileiros. Para cometer os crimes, os criminosos virtuais se infiltram em jogos online, redes sociais e plataformas de mensagens com perfis falsos, fingindo ser crianças ou adolescentes para ganhar a confiança das vítimas.

Segundo a psicóloga, pedagoga e gestora da Escola Internacional de Alphaville, Ana Cláudia Favano, o ambiente digital se tornou parte do cotidiano infantil, mas muitas vezes os responsáveis não acompanham esse processo com o devido cuidado. Neste contexto, a família tem papel importante de proteção.

“Isso cria um terreno fértil para que crianças e adolescentes sejam assediados no ambiente virtual, e seus pais nem fazem ideia disso. Monitorar por onde seus filhos navegam, quais ambientes frequentam e com quem se relacionam virtualmente é uma responsabilidade dos genitores. O abandono digital é muito frequente atualmente. Como as crianças e adolescentes não têm o repertório necessário para reconhecer situações de risco, a orientação de um adulto é essencial”, afirma.

Favano destaca ainda que, muitas vezes, os próprios pais contribuem — ainda que sem intenção — para a exposição dos filhos na internet. “Publicar fotos de crianças em redes sociais abertas, divulgar rotinas, locais que frequentam ou informações pessoais pode facilitar a ação de criminosos virtuais. A responsabilidade pela segurança digital começa com os adultos. É preciso refletir sobre o que se compartilha e entender que a superexposição pode colocar os filhos em risco”, alerta a pedagoga.

COMO PREVENIR E IDENTIFICAR CRIMES CIBERNÉTICOS
Dicas que ajudam as famílias a proteger seus filhos

  • Converse com as crianças e adolescentes sobre segurança on-line. Explique que existem pessoas más na internet e que nem todo mundo é quem diz ser. O velho conselho “não converse com estranhos na rua” também vale para o ambiente digital;
  • Oriente sobre o que fazer em caso de contato com estranhos ou situações desconfortáveis. A criança precisa saber que pode contar com os adultos;
  • Mantenha os dispositivos em locais comuns da casa, principalmente para crianças menores;
  • Crie regras claras sobre tempo de uso, tipos de conteúdo permitidos e aplicativos utilizados. A criança precisa entender, por exemplo, que não deve extrapolar o limite combinado de uso diário do celular, ou que determinados conteúdos, games e aplicativos não podem ser baixados e usados por ela até que tenha maturidade suficiente;
  • Utilize controles parentais e configure a privacidade de contas nas redes sociais. Essas ferramentas ajudam os adultos a supervisionar o uso dos aparelhos;
  • Esteja presente nos ambientes digitais que seus filhos frequentam. Adicione-se às redes sociais, conheça os jogos e participe das conversas sobre o que acessam on-line;
  • Procure ajuda especializada se notar qualquer mudança brusca de comportamento;

USO CONSCIENTE DO CELULAR E TECNOLOGIA Em um mundo cada vez mais digitalizado, onde a internet atravessa não apenas telas, mas objetos e relações, proibir o uso da tecnologia não é viável. A internet das coisas (IA) já é parte do nosso cotidiano. Nesse contexto, a lei que restringiu o uso de celulares nas escolas surge como uma medida necessária e protetiva. “A escola é um espaço de convivência, de celebração da existência e da formação de vínculos reais. Precisamos garantir ambientes em que a atenção plena e o encontro humano sejam preservados”, atenta a diretora geral da Escola Bilíngue Aubrick, Fátima Lopes, que defende a orientação, o diálogo e a construção conjunta de regras são ferramentas mais eficazes do que a proibição pura.

“O papel da família é ensinar, acompanhar e ajudar a estabelecer rotinas de uso, respeitando as fases da infância e da adolescência. Quando crianças e jovens participam da construção dessas rotinas, compreendem os limites como aliados do seu próprio bem-estar”, explica Fátima.

E MAIS…

Crianças e jovens podem dar sinais

A diretora pedagógica do Brazilian International School (BIS), de São Paulo, Audrey Taguti, alerta que crianças e adolescentes costumam dar sinais de que algo não vai bem, seja no mundo real ou no virtual. Mudanças bruscas de humor e de comportamento, irritabilidade, isolamento repentino, perda de interesse por atividades que antes gostavam, queda no rendimento escolar ou alterações no sono e apetite podem ser indícios de que estão enfrentando alguma situação de estresse.

Outro ponto importante, segundo a especialista, é observar a forma como a criança lida com os dispositivos digitais. “Se ela começa a usar o celular de maneira excessiva, se esconde para acessar a internet, apaga conversas ou histórico de navegação com frequência, pode estar tentando ocultar algo que a incomoda ou assusta. Nessas horas, é fundamental que a família esteja emocionalmente disponível para acolher, sem julgamento, e conduzir a conversa de forma segura e aberta”, orienta Audrey.

Responsabilidade deve ser compartilhada

Ao mesmo tempo, a responsabilidade não deve ser apenas das famílias e escolas. As plataformas e tecnologias também precisam se transformar, adaptando seus perfis e práticas para proteger todos os usuários, especialmente os mais vulneráveis. “A segurança digital é uma responsabilidade compartilhada”, reforça Fátima Lopes.

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