Entrevista: Edênia Alcantara, vereadora mais votada em 2020 – “Penso no bem comum da população”

Bruno Freitas
@viuitauna

Mulher mais votada nas eleições para vereador em 2020, por 843 eleitores, Edênia Alcântara (PDT) é conhecida pelo trabalho à frente do Centro da Juventude, destinado, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, “aos jovens que precisam de espaço para se expressar”. Com projetos como a criação de um aplicativo que permitirá ao cidadão propor projetos na Câmara Municipal, ela é um dos nove novos nomes que assumirão as cadeiras partir de janeiro.

Moradora do Vila Nazaré e defensora de um gabinete coletivo, o qual define como sendo de sua essência, Edênia afirma que cobrará soluções para áreas como saúde às minorias e novas condições de habitação. Provoca ainda aos vereadores eleitos a não permanecer na zona de conforto, em meio à política de assistencialismo que manchou a imagem do Poder Legislativo.

Ao @viuitauna, a futura parlamentar fala ainda sobre os projetos, a visão que tem de Itaúna e o que espera para o futuro da cidade. Confira a entrevista:

Você tem sido associada à figura de Marielle Franco (PSOL). Se considera parecida com a socióloga e ex-vereadora do Rio de Janeiro, assassinada em março de 2018?
A questão da minha figura ser associada à ela é pelo fato de histórias parecidas. Uma mulher preta, periférica, com suas dificuldades, conseguiu alcançar uma cadeira na Câmara. Quando as histórias se parecem, as pessoas querendo ou não acabam fazendo esta ligação. Tenho muito orgulho disso. Se ela conseguiu chegar aonde chegou, foi por mérito, trabalho e esforço. Muitas pessoas anseiam por representatividade em espaços de decisões.

Seu trabalho em Itaúna ficou conhecido pelo Centro da Juventude. Qual balanço você faz?
O trabalho foi iniciado por uma oportunidade do secretário Elvio Marques e deve continuar. A cidade precisava deste espaço para juventude e necessita de outros mais como este, descentralizando as ações para bairros mais afastados. Foi um processo de contrução coletiva. É o que trago na minha essência. Nada que parta de mim para a população, mas algo construído em conjunto. Todos os trabalhos realizados pelo Centro da Juventude são grupos diversos que ocuparam espaços e desenvolvem atividades, feito por eles, com eles e para eles.

Um dos seus projetos é um aplicativo para o cidadão propor projetos à Câmara Municipal. Como ele funcionará na prática?
O aplicativo parte da ideia inicial da participação efetiva da população na política itaunense. Além do app e o atendimento na Câmara pelo gabinete, que tem nome, “Nós por nós”, trabalharemos ativamente nos bairros com um gabinete itinerante e cronograma a ser seguido. Lembrando, enfatizando os cuidados durante a pandemia. Para facilitar e estimular a participação, queremos lançar este app, básico, para acesso de qualquer pessoa leiga, começando pelo colhimento de demanda. Uma capina de rua, como direcionar projeto tal. É para receber estas demandas e uma forma de o gabinete estar mais próximo da população.

A população de Itaúna demanda muito educação, saúde e emprego. Quais serão as prioridades do seu mandato?
Acredito que esta é uma demanda não só da nossa cidade, mas nacional. A tendência infelizmente é crescer no pós-pandemia. Nós vereadores temos de estar preparados e pensar alternativas de se amenizar esta questão. As pautas que já venho trabalhando passam muito pela saúde e educação. Principalmente por trabalhar com o público que é minoria e depende muito do acesso à saúde, SUS, hospital e PSFs. Será uma pauta que estarei cobrando, participando ativamente, buscando conhecimento, porque além de alcançar este espaço na Câmara, é essencial que os novos vereadores não fiquem nessa zona de conforto fazendo pequenos favores. Penso no bem comum da população. Que não seja um vereador de bairro, mas da cidade. Para que isso seja um trabalho efetivo é necessário buscar conhecimento, parcerias e correr atrás de recursos para a nossa cidade.

Edênia, em entrevista à TV Cidade Itaúna na última terça-feira (24)

Falando de assistencialismo, a Câmara tem uma série de denúncias. Qual a sua visão deste tipo de política e como o Poder Legislativo pode recuperar o prestígio?
A política de assistencialismo é algo que tem de ser trabalho não só na mente dos políticos, mas também da mentalidade do cidadão. Que o político pode sim estar auxiliando com uma cesta básica. A gente que mora em bairros como o Vila Nazaré vê a necessidade das famílias. Tem família que procura porque não tem um arroz ou feijão dentro de casa. O vereador, os assessores precisam conhecer o SUAS (Sistema Único de Assistência Social), que é a lei de assistência social. Em Itaúna temos três CRAS (Centros de Referência de Assistência Social) com menos de 100 mil habitantes, um feito enorme. Os CRAS podem dar suporte às famílias, não de assistencialismo de cesta básica, mas de acompanhamento social, com psicólogos, assistentes sociais, encaminhando para o mercado de trabalho, acompanhando periodicamente. Além de dar o pão, dar a vara para essas famílias também aprender a pescar. Quando o vereador tem esse conhecimento dos serviços, a gente consegue desvincular o assistencialismo.

Sobre Itaúna, qual a visão que tem da cidade? O que espera para a Itaúna do amanhã?
Me vejo como uma jovem mãe. A cidade de Itaúna tem muito a evoluir. Às vezes não gosto de fazer comparações, porque cada realidade é uma realidade. Se pensarmos bem, Divinópolis é uma cidade bem mais jovem que Itaúna e é mais evoluída, economicamente falando e em número populacional. Lá temos uma universidade federal, uma estadual, várias instituições de educação e quem abraçam os alunos de Itaúna. Temos de caminhar olhando para frente, pensando do ponto de vista econômico. A gente tem de pensar em beneficiar a população itaunense. Não os que vem de fora, só querem passar uma temporada ou montar uma empresa aqui.

Uma das cobranças das eleições em 2020 foram novas habitações populares em Itaúna. Como avalia esta política na cidade?
Além da possibilidade de dar às pessoas uma residência, temos de olhar também para quem já tem casa, sem capacidade de uma moradia digna. Falo por experiência do bairro em que moro. São famílias de seis a 10 pessoas que moram em três ou quatro cômodos, sem uma condição mínima de conforto. Na última chuva várias pessoas tiveram suas casas danificadas. Além de pensarmos em novas habitações, temos de trazer melhorias para as já existentes. E ao pensar nas novas moradias, que o acesso seja de fato para as pessoas que realmente precisam. De forma que estas pessoas consigam pagar. É uma causa que quero buscar conhecimento para atuar ativamente.

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