Opinião: Sant’Ana, padroeira de Itaúna

*Prof. Luiz Mascarenhas

Entre os meandros e brumas da história rememoramos a presença do homem branco nessas terras desde – provavelmente o recuado ano de 1720. Foi a necessidade de se cumprir os deveres para com Deus, como se dizia e se acreditava naqueles recuados tempos, principalmente de suas esposas de tradicionais famílias católicas, que os maridos se viram envolvidos com a construção de um oratório para o culto católico no alto do morro. Oratório erigido de taipa de pilão e coberto de capim, próximo a um cruzeiro já existente; isso por volta de 1739, onde nele se depositou a imagem em cedro de Sant’Ana, oriunda da cidade de Setúbal, Portugal, adquirida junto com outra imagem da mesma invocação e um Senhor do Bonfim; que foram compradas pelo principal pioneiro de Bonfim, Manoel Teixeira Sobreira, como pagamento de uma promessa. Transcorrido alguns anos, temos Manoel Pinto de Madureira e demais moradores da Passagem do São João requisitando ao Sr. Bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz as devidas licenças para a ereção da Capela. Isto no ano de 1750.

Veio a licença e por este documento, sabemos da existência inequívoca do oratório. Dom Frei Manoel da Cruz, Bispo de Mariana, diocese a qual pertencia a Passagem do São João da Comarca do Pitangui (Itaúna) ordenou que se levantasse a Capela de Sant’Ana no mesmo local onde estava o seu oratório. Esta ficou pronta em 11 de outubro de 1765, quando o seu patrimônio (terras) foi passado para a Cúria de Mariana e foi benta conforme o ritual romano. Nesta data, o sr. Bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz deu nome à nossa povoação; agora, a Passagem do São João passava a ser a POVOAÇÃO NOVA DE SANT’ANA DO RIO SÃO JOÃO ACIMA!

E mais uma vez ITAÚNA celebra sua excelsa Padroeira, a Senhora Sant’Ana.

Oficialmente, a solene Novena da Padroeira Sant’Ana acontece, de forma ininterrupta desde o ano de 1841, quando o pequeno arraial de Sant’Ana – então um Curato, pertencente à Paróquia de Pitangui – foi elevado à categoria de Paróquia. Itaúna, como município, surgiria apenas 60 anos depois. Portanto, pelo menos há 178 anos acontece nessas barrancas a festividade da Senhora Sant’Ana.

Contudo, a devoção à Mãe de Nossa Senhora é bem mais antiga nestas terras. A veneranda imagem de Sant’Ana, entalhada em cedro e com douramentos barrocos, que se encontra hoje no púlpito da Igreja Matriz de Sant’Ana, aqui chegou no longínquo ano de 1735; o que nos reporta a uma antiguidade de 284 anos. Falemos um pouco sobre essa velha judia, Sant’Ana, que se tornou oficialmente a Padroeira de Itaúna, através de uma Bula do Papa, Santo João XXIII, no ano de 1961. SANTA ANA OU SANT’ANA (do latim Anna, por sua vez do hebraico transliterado Hannah, “Graça”) foi mãe de Maria, avó materna de Jesus Cristo. Os dados biográficos que sabemos sobre os pais de Nossa Senhora foram legados pelo Proto-Evangelho de Tiago (um dos chamados Evangelhos Apócrifos) obra citada em diversos estudos dos padres da Igreja Oriental, como Epifânio e Gregório de Nissa.

Sant’Ana, pertencia à família do sacerdote Aarão e seu marido, São Joaquim, pertencia à família real de Davi. Seu marido, São Joaquim, homem pio fora censurado pelo sacerdote Rúben por não ter filhos. Mas Sant’Ana já era idosa e estéril. Confiando no poder divino, São Joaquim retirou-se ao deserto para rezar e fazer penitência. Ali um anjo do Senhor lhe apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. Tendo voltado ao lar, algum tempo depois Sant’Ana ficou grávida. A paciência e a resignação com que sofriam a esterilidade levaram-lhes ao prêmio de ter por filha aquela que havia de ser a Mãe de Jesus.

Eram residentes em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesda, onde hoje se ergue a Basílica de Santana; e aí, num sábado, 8 de setembro do ano 20 a.C., nasceu-lhes uma filha que recebeu o nome de Miriam, que em hebraico significa “Senhora da Luz”, passado para o latim como Maria. Maria foi oferecida ao Templo de Jerusalém aos três anos, tendo lá permanecido até os doze anos.

A devoção aos pais de Nossa Senhora é muito antiga no Oriente, onde foram cultuados desde os primeiros séculos de nossa era. Seu culto foi tornando-se muito popular na Idade Média, especialmente na Alemanha. Tendo sido São Joaquim comemorado, inicialmente, em dia diverso ao de Sant’Ana, o Papa Paulo VI associou num único dia, 26 de julho, a celebração dos pais de Maria, mãe de Jesus. Assim sendo, no dia 26 de julho comemora-se também o DIA DOS AVÓS.

Neste ano da graça de 2019, a Paróquia Sant’Ana de Itaúna novamente movimenta-se para honrar sua Padroeira. Uma equipe diretamente envolvida de aproximadamente mil pessoas; espalhadas pelos mais variados servidos litúrgicos, pastorais e da parte social e recreativa das festividades. Nosso revmo. Pároco, Pe. Everaldo Quirino demonstra mais uma vez todo o seu zelo pastoral, dedicação evangélica e acuidade e profícuo trabalho na organização e condução desta grande solenidade. Verdadeiro pastor que guiam o rebanho de Cristo para a Itaúna do alto, nossa Jerusalém Celeste!

Para os católicos, após as Festividades da Páscoa e do Natal; a maior das solenidades é a de seu padroeiro. O novenário é um verdadeiro Kairós, ou seja, um tempo forte e propício à oração e a escuta vivaz da Palavra de Deus. É dever e grave do povo católico conhecer bem a Doutrina da Igreja; assim como buscar vive-la e com alegria em seu dia a dia, uma vez que toda ela provém da Sagrada Escritura.

E seguimos a vida neste chão abençoado de Itaúna, cantando sempre alegres: “sem perder de Sant’Ana bondosa, a certeira e fiel proteção.”

*Bacharel em Direito, licenciado em História pela Universidade de Itaúna, historiador, escritor e membro fundador da Academia Itaunense de Letras, autor de Crônicas Barranqueiras e coautor de Essências, Olhares Múltiplos e O que a vida quer da gente é coragem

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