Opinião: A falência dos cemitérios de Itaúna

Alessandro Bao Travizani*

Segundo todas as estatísticas oficiais, as doenças cardiovasculares, especialmente o infarto e o derrame, são a maior causa de óbitos no mundo, chegando a matar duas vezes mais do que qualquer tipo de câncer. Em Itaúna não é diferente. O infarto do miocárdio segue cruel, dizimando famílias, além de aumentar gastos públicos e privados com o tratamento daqueles que sobrevivem.

Para evitar mortes e graves cicatrizes posteriores que incham e enfraquecem o coração, quando uma das artérias (veias) do coração entopem – infarto –, o tempo de atendimento da chegada à porta do hospital até o momento efetivo do desentupimento da artéria deve ser, idealmente, de 90 minutos.

Hoje, a cidade ainda não possui a sala de cateterismo (também conhecida como hemodinâmica), onde médicos, através da perna, introduzem rapidamente espécies de canos que vão até o coração, desentopem e salvam vidas imediatamente. O que se têm são apenas os fibrinolíticos, remédios que injetados no braço, tentam fazer o mesmo desentupimento, muitas vezes falhando, exigindo o cateterismo em sequência.

Difícil é conseguir atender o paciente da fila, fazer os exames, detectar o infarto, conseguir uma ambulância, ter a sorte de uma vaga em Divinópolis e, nos 90 minutos, estar com a artéria desentupida. Por isso tantos infartados mortos ou sequelados em Itaúna.

A cidade, no passado, perdeu algumas oportunidades de ter a sala de hemodinâmica. Agora, graças ao trabalho exemplar da atual provedoria e à benevolência do Grupo J. Mendes, de doar o edifício para a instalação, não se pode perder a chance que tantas cidades menores já agarraram, como Ponte Nova e Poços de Caldas, por exemplo.

Junto com a hemodinâmica vem a cirurgia cardíaca (trocas de válvulas e pontes de safena) e os implantes de marcapassos. Ainda que salvar uma vida – quiçá milhares – não tenha preço, tudo isso, bem gerido, trará lucros importantes ao hospital.

Os meios físicos já estão doados, a equipe de hemodinâmica do Hospital São João de Deus já está pronta para assumir os plantões junto aos médicos de Itaúna. Agora, cabe apenas à Prefeitura, através da Secretaria de Saúde, fazer a sua parte, credenciando o serviço junto ao SUS. Perder uma chance dessas poderá se transformar no maior retrocesso de Itaúna das últimas décadas.

Ano que vem teremos eleições. Os cidadãos devem ficar vigilantes e cobrar dos “pedidores de votos” o funcionamento da sala de cateterismos do Hospital Manoel Gonçalves, única forma de neutralizar essas “doenças assassinas” e de esvaziar, definitivamente, os movimentados cemitérios de Itaúna.

*Cardiologista itaunense, diretor de Comunicação da Sociedade Mineira de Cardiologia

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