@viuitauna
Ex-coordenador de Defesa Civil e ex-assessor da vereadora Otacília Barbosa (PV), o engenheiro de minas Thiago Aníbal ganhou as manchetes em fevereiro, ao protagonizar uma das maiores denúncias recentes da política em Itaúna: a suposta prática de rachadinha na Câmara Municipal. O processo continua em investigação pela Polícia Civil, embora Aníbal acredite que a votação, suspensa em maio pela defesa do vereador Lacimar Cezário, o Três (PSL), ainda possa retornar à Casa em 2020.
Além de um regimento interno ultrapassado, o denunciante atribui à Mesa Diretora e à Procuradoria a responsabilidade pelo não andamento das investigações e diz confiar mais na Justiça do que no próprio Poder Legislativo, embora seja pré-candidato a uma das 17 cadeiras.
Thiago Aníbal garante ainda que não fez as denúncias por retaliação ao governo do prefeito Neider Moreira (PSD), onde alega ter enfrentado resistência, mas incentivado pela política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Leia a entrevista ao @viuitauna:
Depois da liminar da defesa de Três, você acredita que o processo da rachadinha volte à Casa, ainda em 2020, ou será arquivado como ocorreu com o caso dos “pastéis recheados” envolvendo Alex Artur, o Lequinho (PV)?
Nessa suspensão da comissão processante, a Procuradoria (da Câmara) ficou meio inerte à situação e foi suspenso. Acredito sim que serão retomados os trabalhos. Pelo menos confio mais nos poderes da Justiça do que no Poder Legislativo, que de certa forma fica questionável, sendo contestada a capacidade de tocar o processo de CPI contra o Três.
Alguns vereadores reclamam que o Decreto 201/67 é antiquado e abre margem para interpretações jurídicas. O regimento interno é prejudicial ao andamento das CPI’s?
Com certeza. Passou da hora de o regimento da Câmara ser revisto, refeito e analisado por todos os edis. Inclusive a presidência. Esse regimento é prejudicial não só aos trabalhos da Câmara, como à população itaunense como um todo, nos processos que exigem seriedade.
Outras denúncias não foram investigadas pela Câmara, incluindo a própria rachadinha, citada anteriormente pelo vereador Iago Santiago, o Pranchana Jack (Avante); fura fila do SUS; carro oficial usado para transportar namorada e vereador até a garagem da ViaSul, em meio à CPI que investiga a empresa de ônibus. Acredita que estas e demais denúncias não darão em nada ou tem potencial de investigação?
Confesso que coloco questionável os trabalhos da Procuradoria da Casa e da Mesa Diretora. Jogo a responsabilidade para ambos. Este fato tem de ser analisado e levado por seriedade por ambos. O que fica questionável, no meu entendimento, à capacidade dos trabalhos.
Para dar sequência às investigações, os vereadores devem protocolar as denúncias. E elas não são oficiadas dentro da Câmara. Por que isso ocorre? Qual a análise que você faz do Poder Legislativo?
É uma coisa que eu não entendo. Como denunciante de várias condutas ilegais, imorais, fiz o meu papel de cidadão. Contesto também o trabalho de alguns vereadores, que sabem da situação e ficam omissos, não levam o processo para frente, não pegam a responsabilidade para si, esperando que outras pessoas venham a se manifestar. A população, até mesmo as pessoas que confiaram os seus votos à esses vereadores, devem sim cobrar uma postura mais de compromisso com a sociedade itaunense.
Antes de denunciar a rachadinha, você exerceu a coordenadoria de Defesa Civil em Itaúna. Por que rompeu com o governo Neider? O que aconteceu?
Ótima pergunta, você está me dando a oportunidade de responder e falar sobre isso. Até mesmo sofri um ataque indevido, desonesto, por parte do Executivo, aonde veio falar, questionar, o meu trabalho na Defesa Civil. A Defesa Civil, em outros mandatos, nunca foi construída da maneira que alicercei no governo atual. Antes, não tinha o telefone 199. Nunca teve um veículo próprio para fazer as visitas técnicas e atender a população devidamente. Também nunca teve um plano de contingência, no qual mapeei todas as áreas de risco em Itaúna e fiz um trabalho em conjunto com o Corpo de Bombeiros. Então a Defesa Civil tinha tudo para alavancar e ser um referencial aqui na nossa cidade, porém o prefeito não achou necessário valorizar o setor. A Defesa Civil não tinha nem local de atendimento. Consegui uma sala no Terminal Rodoviário. Também não havia a coordenação (Codec), nem fundos financeiros próprios para movimentar alguma verba do Estado. Recorrendo, me coloquei a disposição de algum vereador e pedi auxílio jurídico. Foi na época em que me aproximei profissionalmente da vereadora Otacília e ela acabou ajudando o governo indiretamente, porque ela não vê distinção entre os governantes. A criação do fundo da Coordenadoria de Defesa Civil, quem ajudou na construção, foi a própria Otacília.
A sua insatisfação com o governo o levou a fazer as denúncias na Câmara?
Não. Minha insatisfação foi aceita e não foi tomada para um lado pessoal. As denúncias que levei tem o meu papel de cidadão, que venho exercendo. Falo até que é uma coisa que eu tenho desde as minhas raízes, minhas origens. É inadmissível aceitarmos a corrupção, tendo um presidente como Jair Bolsonaro, que veio para denunciar o sistema político. Tendo isso em vista, não quis ficar omisso. Quando fui trabalhar na Câmara, tinha uma única missão: acabar de levantar o que estava sendo desviado no asfalto de nossa cidade, o que resultou na ação civil pública contra o prefeito. Fiquei satisfeito e aguardo o andamento do processo judicial.
As mulheres tem feito diferença entre os 17 vereadores. Por que Otacília é tão atacada por determinados militantes e jornalistas?
A Otacília, assim como eu, é uma pessoa muito correta e não aceita ser corrompida. É uma vereadora atuante, legalista e tendo ciência desses atos de corrupção, atos fraudulentos, como responsável pelo cargo que exerce, uma vez que a principal função do vereador é fiscalizar o Executivo, não deixou isso acontecer. Não ficou omissa. Fez sim, as denúncias que deveriam ter sido feitas. Inclusive os ataques da imprensa ocorreram por causa do que ficou conhecido na nossa cidade como Operação Carona Sinistra. Participações fraudulentas, esquemas até milionários, que ainda podem resultar em alguma coisa.
Uma das maiores críticas ao trabalho de Otacília é o apostilamento, sendo ela, inclusive, taxada de “mãe do apostilamento”. Qual é a sua opinião? Você é a favor do apostilamento?
Se existe determinado ato, conveniente ou não, temos de olhar pela questão judicial. Se a lei não proíbe, ela permite. Jamais abriria mão de um direito meu, se isso for constitucionalmente legal. Mesmo não concordando muitas das vezes com o apostilamento, mas é um direito. Quando o direito é dado, ele não pode ser retirado.
Nas redes sociais, você protagonizou um embate com um representante da associação do São Bento. Como surgiram seus questionamentos naquele bairro?
Aconteceu um mal entendido desse cidadão. A Otacília, como vereadora, cumpriu o seu papel. Ela foi requisitada por alguns moradores do bairro para solucionar um problema que não havia sido solucionado. Fui juntamente com ela, como cidadão, e fiz a avaliação da questão. Cobrei do Executivo uma postura a ser tomada. Não sabia eu que o representante da associação havia feito pedidos antes, nos meses anteriores. Parece que ele ficou incomodado com a situação e achou que eu era uma pessoa que estaria aproveitando da situação e não foi o caso. Os mesmos moradores que me procuraram e procuraram a Otacília se manifestaram a ele, dizendo que não era isso o que havia ocorrido. Estava realmente atendendo uma demanda da população.