Um projeto protocolado pelo grupo mineiro Cedro Participações na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) pretende construir a primeira ferrovia de curta distância (short line, em inglês) do Brasil. Aguardando o aval regulatório, o empreendimento prevê a ligação de Itaúna e São Joaquim de Bicas em 32,4 quilômetros de trilhos de bitola de 1,6 metro, conectando o escoamento da produção de minério de ferro da região da Serra Azul à MRS Logística, que desce para portos do Rio e de São Paulo.
Na região operam cinco produtoras de minério de ferro, que utilizam carretas para transportar a produção até pátios de embarque ao lado da linha da MRS. Com a nova ferrovia, cujo investimento é apontado em R$ 1,8 bilhão, a promessa é de benefícios sociais e ambientais à região, além de frete inferior. O grupo envolvido prevê gerar 1 mil empregos diretos e 3 mil indiretos na obra. Na operação, estão previstos até 400 empregos.
“São 2,5 mil carretas circulando por rodovias da região, principalmente na BR-381, todo dia, carregadas com 37 mil quilos, gerando acidentes, desgastes na via e com maior custo do frete do que o que a ferrovia vai oferecer”, afirma o empresário Lucas Kallas, à frente do projeto, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Segundo ele, a Cedro aguarda o aval da ANTT para dar partida nos procedimentos para viabilizar a obra, como licenciamento ambiental, apresentação do projeto aos potenciais usuários e também às comunidades da região. O empresário, que atua no ramo da mineração em outras regiões de Minas, conta que iniciou o projeto da “small railway” há um ano, com base na situação do transporte da carga constatado na região.
ALTERNATIVA DE TRANSPORTE Com capacidade de transportar 25 milhões de toneladas por ano, o projeto, denominado Ramal Serra Azul, promete ser uma alternativa de transporte de minério das mineradoras ArcelorMittal, Comisa, Ipê, Minerita e Usiminas. Nele estão previstos trilhos de bitola igual à da ferrovia da MRS, com cinco composições de 132 vagões cada. Cada vagão pode transportar 100 toneladas. Segundo a Cedro, cada trem levará volume o equivalente ao de 471 carretas.
Estudos da empresa apontam a distância média de transporte cairá de 50 km para 30 km. José Carlos Martins, conselheiro especializado de mineração da Cedro, afirma que a pequena mineração nasceu onde tinha minério, e não logística integrada, e vem crescendo. Por isso, o projeto tem “muitos méritos”. O prazo de construção da obra, após aval, é de 24 meses.
“Como a ferrovia emite um terço do que gera os caminhões, o efeito combinado pode reduzir em até 50 mil toneladas ao ano as emissões de CO2. Mais de 70% sobre os níveis atuais de emissão”, argumenta Martins. “A grande vantagem é que o ramal faz a integração ao fluxo logístico da grande ferrovia e tem custo menor que o do rodoviário”, acrescenta.
OUTORGA O @viuitauna entrou em contato com a assessoria de imprensa da ANTT, que respondeu por meio de nota, após a publicação, confirmando o requerimento do projeto. A agência afirma que fará o acompanhamento do projeto, assim como em outras autorizações.
“A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informa que o processo administrativo citado foi instaurado em 18 de agosto de 2023 por meio de um requerimento feito pela Cedro Participações S.A para autorização ferroviária, com objetivo de explorar um novo ramal, na região de Serra Azul, Minas Gerais. O trecho, de aproximadamente 33 quilômetros de extensão, cruzaria no sentido Leste-Oeste os municípios de São Joaquim de Bicas, Igarapé, Mateus Leme e Itaúna. Por se tratar de um pedido de empreendimento privado, caberá a ANTT fazer apenas o acompanhamento do projeto, assim como em todas as outras autorizações (lembrando que as autorizações são diferentes das concessões)”, afirma a ANTT.
E MAIS…
Participação minerária Controlado pela família Kallas, o Grupo Cedro surgiu no final de 2017. A entrada no setor de mineração ocorreu com a Mina do Gama, adquirida da Extrativa Mineral, em Nova Lima, na Grande BH. Com investimento de R$ 150 milhões em tecnologias para melhorar a produtividade, o grupo ampliou a produção da mina de 1,3 milhão de toneladas no primeiro ano para cerca de 4 milhões de toneladas/ano. O grupo conta com quatro novas minas, todas em Minas: Cedro Mariana; Patrimônio e Dois Irmãos; e Sapé. A produção é comercializada com fabricantes de ferro-gusa, siderúrgicas e outras mineradoras, como Vale, CSN e Trafigura.
Aumento na capacidade Além do investimento na ferrovia, o grupo está investindo US$ 300 milhões por meio da Cedro Mineração, até 2026, para ampliar a capacidade de produção de minério de ferro. O objetivo da empresa é quintuplicar a capacidade produtiva.
Mas e a ferrovia histórica que já existe em Itaúna, de bitola métrica, operada pela VLI? Está em boas condições e se conecta a múltiplas siderúrgicas e portos. Por que foi ignorada?
Olá,
Moro em Igarapé mg e gostaria de saber se a ANTT já autorizou o projeto do Ramal ferroviario serra azul e se já tem o traçado da linha.