Bruno Freitas
@viuitauna
Antiga cobrança de cidadãos que reclamam do atendimento na saúde, a construção de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Itaúna voltou a ser pauta de candidatos nas eleições de 2020. O projeto, iniciado em 2009 na gestão do ex-prefeito Eugênio Pinto (PT), chegou a ser ampliado de Porte I para Porte II durante o governo Osmando Pereira (PSDB), prevendo 11 leitos e capacidade para atender 250 pacientes ao dia. Porém, acabou descontinuado pelo Município antes de o Ministério de Saúde redefinir as diretrizes do modelo assistencial do Sistema Único de Saúde (SUS), em janeiro de 2017.
Na véspera das eleições, o discurso agora é de que a obra da UPA possa sair do papel, embora seja considerada complexa e de alto custo, já tenha sido prometida nas eleições de 2016 – leia mais a seguir –, mas sequer tenha sido executada nos últimos quatro anos.
O @viuitauna entrou em contato com a Prefeitura de Itaúna em busca de explicações a respeito do projeto. De acordo com o secretário Municipal de Saúde, Fernando Meira, não existe possibilidade de reverter a habilitação da unidade – hoje dividida no Brasil em três perfis, UPA 24h, UPA 24h Nova e UPA 24h Ampliada, conforme a complexidade de atendimento – suspensa durante o governo anterior. Uma nova implantação, por outro lado, é uma das previsões do plano de governo do prefeito e candidato a reeleição Neider Moreira (PSD), afirma o secretário.
No documento registrado junto ao TSE consta a proposta de “discutir e observar a viabilidade de construção de Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24 horas), de preferência em local próximo à Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira”, vínculo que chegou a ser avaliado junto ao Hospital Manoel Gonçalves, afirma o ex-prefeito Osmando Pereira. Apesar de contemplar a possibilidade de a UPA sair do papel, o plano de governo de Neider lista ainda o objetivo de “aprimorar e ampliar os atendimentos de Urgência e Emergência no Pronto Socorro Municipal, mantendo a utilização do Protocolo de Manchester para a priorização dos casos mais graves e urgentes”.
UPAs na região
Abaeté, Divinópolis, Formiga, Lagoa da Prata, Mateus Leme, Nova Serrana e Pará de Minas
Custo de construção estimado
R$ 1 milhão a R$ 1,2 milhão
Atendimentos SUS em Itaúna ao mês
Pronto Atendimento 24h – 5.100
Centro de Especialidades (CEMO) Dr. Ovídio Nogueira Machado – 4.000
PSFs (23 no total) – 690
Total: 9.790
Fonte: Prefeitura Municipal de Itaúna
REINÍCIO Na avaliação de Meira, para dar continuidade ao projeto da UPA será necessário solicitar e buscar um novo processo de credenciamento e habilitação junto ao Governo Federal. “Temos de buscar, além de recursos, uma organização local, juntamente com a Superintendência Regional de Saúde, para que a gente consiga colocar em prática”, acrescenta. O secretário, porém, diz que não há como estimar um custo para a obra. A Prefeitura também não soube informar um prazo de construção. “O valor previsto é difícil de estimar, uma vez que depende do local da construção e das características próprias requeridas. Como parâmetro, a construção de uma UPA varia de R$ 1 milhão a R$ 1,2 milhão normalmente”, diz Meira.
PERDA DE CADASTRO Nesta quarta-feira (4), um candidato a vereador divulgou vídeo nas redes sociais afirmando que o ex-prefeito “não fez o cadastro a tempo” e “Itaúna perdeu a oportunidade de ter uma UPA de Porte II”. Na gravação, o candidato, que também é jornalista, indaga se a suspensão do credenciamento ocorreu por incompetência ou inviabilidade e se os vereadores deixaram o projeto passar. “Itaúna tem sim a possibilidade de ter uma UPA. O hospital sozinho não dá conta da demanda. Isso pode ser feito, se correr atrás e tiver quem cobre”, diz.
As afirmações do aspirante à vaga na Câmara foram contraditas por Osmando Pereira e a ex-secretária Municipal de Saúde, Ângela Amaral. O ex-prefeito sustenta que negociou com o Hospital Manoel Gonçalves a construção da UPA em um terreno na Av. São João, quando o Ministério da Saúde suspendeu, temporariamente, a construção de novas unidades em todo o Brasil. “O pensamento de construir junto ao hospital era a alternativa diante da inviabilidade financeira de manter a UPA, o Pronto-Socorro e o Plantão do hospital. Conseguimos resgatar e mudar para UPA II, por ser maior e possibilitar mais serviços”, explica Osmando.
Ângela Amaral sustenta que a pasta realizou um levantamento junto à outras UPAs da região e concluiu que o modelo seria inviável, além de exigir gastos em duplicidade para o Município – como uma nova Sala Vermelha. Na ocasião a Prefeitura de Itaúna optou por investir em melhorias no Pronto Atendimento 24h. As UPAs de cidades da região, aponta a ex-secretária, funcionam como pronto socorros. “Não perdemos o prazo, nos manifestamos contra a implantação que havia sido solicitada em um mandado anterior. A manutenção da operação de uma UPA é extremamente cara. Concluímos que, para Itaúna, não cabia naquele momento”.
Ainda segundo a ex-secretária de Saúde, falar da construção e montagem de uma UPA requer conhecimento profundo da legislação e dos custos. “Uma UPA necessita, por exemplo, de um laboratório para análises clínicas e sala para exames de imagens”. Uma das soluções apontadas por Amaral para melhorar o atendimento de urgência em Itaúna é ampliar o horário de funcionamento de PSFs, descentralizando a demanda do hospital.
OUTRO LADO Questionado pelo @viuitauna sobre as afirmações, Eugênio Pinto confirma que em 2009 seu governo tinha a intenção de implantar uma UPA em Itaúna. Porém, o Município aguardava mudanças na legislação que poderiam impactar no custo financeiro da obra. “O valor prometido seria reduzido, não só para construção, como para manutenção. Se implantássemos naquele momento, a unidade teria um custo de mais de R$ 1 milhão por mês, além do Pronto Atendimento. Não a implantamos por causa da indefinição de valores. Ainda hoje a Prefeitura de Itaúna não tem condições financeiras de implantar uma UPA”, opina o ex-prefeito.
O Hospital Manoel Gonçalves não retornou a publicação. Tão logo se manifeste a matéria será atualizada.
Assista ao comentário de Bruno Freitas no jornal Cidade em Notícia da TV Cidade Itaúna:
https://www.facebook.com/viuitauna/posts/3326094680817651
SAIBA MAIS
O que já foi dito sobre UPA em Itaúna
“Uma UPA representa um custo muito alto. Em Itaúna temos postos de saúde em quase todos os bairros. Investimos muito em saúde, mas a população não recorre aos PSFs. Gosta de ir no hospital. Isso é cultural, sem necessidade”,
Vice-prefeito Fernando Franco, em entrevista ao @viuitauna
“Eu me preocupo com a saúde dos itaunenses. E, é por me preocupar, que não vou permitir que o Plantão, onde são atendidos os casos de urgência e emergência, funcione sem médicos especialistas, como pediatras, neurologistas e traumatologistas. Itaúna perdeu recursos do governo federal para a construção da UPA, o que iria ajudar no atendimento das pessoas. Hoje, todos nós queremos e temos o direito de ter atendimento ágil, humanizado e eficiente seja no Pronto Socorro ou nas unidades de PSF”,
Prefeito e candidato Neider Moreira (PSD), na campanha de 2016
“Neider tem me pedido novos recursos e mais investimentos para poder melhorar a condição de atendimento da população de Itaúna. Temos conversado também sobre a UPA, infelizmente uma verba que já veio foi perdida. Mas, nós vamos recuperá-la. Eu quero estar em Brasília, ao lado de Neider, buscando aquilo que é direito de Itaúna, buscando mais recursos, mais verbas, para construir a UPA, resolver o problema do Pronto Atendimento e também para investir no Hospital Manoel Gonçalves”,
Ex-deputado federal Jaime Martins (DEM) na campanha de Neider em 2016
Matéria atualizada às 9h15 de 5/11/2020 com novas informações