Entrevista: Cíntia Valadares, nova gerente da DMTT em Itaúna – “O trânsito não pode ser punitivo”

Bruno Freitas
@viuitauna

Desde terça-feira (19) Itaúna tem uma nova gerente de Trânsito, após a exoneração de Audrey Leite da Diretoria Municipal de Trânsito e Transporte (DMTT). Pós-graduada em Educação no Trânsito, a consultora Cíntia Valadares, que trabalha na área há 30 anos, retorna a cidade depois de ter sido uma das responsáveis pela municipalização, aprovada pela Câmara em junho de 2017. Defendendo a necessidade de campanhas de educação, Cíntia afirma que a implantação dos semáforos sincronizados na Praça Dr. Augusto Gonçalves será mantida, mas reconhece a necessidade da volta do talão físico no Rotativo, em meio a polêmica das notificações emitidas por monitores da concessionária IT2B.

A nova gerente explica que somente a Polícia Militar tem o poder de multar veículos na cidade e as notificações só serão levadas adiante se estiverem devidamente preenchidas e o proprietário não recorrer à Junta Administrativa de Recursos de Infrações (JARI). Da forma como foram implantadas, em 22 de abril, as notificações de estacionamento não ficaram claras à população.

“Sou a autoridade de trânsito, posso ver uma infração absurda na rua e ligar para a Polícia. O policial que me receber não pode acatar essa infração. Só a PM tem o poder de multa”, afirma.

No período em que esteve fora de Itaúna, desde fevereiro de 2019, Cíntia atuou em consultorias para municípios como Barbacena e Ouro Fino, que já haviam sido inseridos ao Sistema Nacional de Trânsito (SNT), mas não haviam aplicado a municipalização na prática. Confira a entrevista da nova gerente de trânsito ao @viuitauna:

A exoneração do seu antecessor, Audrey Leite, ocorreu depois da polêmica envolvendo a instalação de semáforos em faixas de travessia de pedestres. Os equipamentos serão mantidos?
Está tudo certo. Tem de ser assim. Todas as ações são para a segurança do pedestre. Mas não pode ser implantada sem educação. Faltou ali uma comunicação. Quando uma cidade tem um hábito muito forte, como Itaúna, precisa ser melhor trabalhado. Temos aqui algo fantástico. Os motoristas respeitam a preferência do pedestre. Na maioria das outras cidades há a dificuldade de se dar a preferência. O costume fez com as pessoas atravessem a faixa com muita segurança. Se fizemos uma campanha educativa, apontando a necessidade de que o pedestre fique atento para o momento da travessia, tudo muda. Estamos nos organizando para isso. No mais tardar na semana que vem teremos ações para esclarecimento de semáforos de pedestres e motoristas. Os semáforos estão certos, são para segurança. Não temos a intenção de retirar.

Muitos motoristas tem desrespeitado os novos semáforos, principalmente a noite.
Avançar sinal vermelho é infração gravíssima e o motorista não pode se esquecer disso. Vamos estabelecer ações para que isso fique claro.

Nas ruas também se tornaram comuns infrações de motofretistas, como avanço de sinal, trafegar pela calçada e pela contramão. O departamento de Trânsito está atento a isso?
Pedi um levantamento das infrações mais cometidas em Itaúna. Colocaremos uma ação em prática para readequar o funcionamento dos semáforos em determinados horários. Vamos alterar de acordo com o fluxo de veículos. As campanhas educativas ocorrerão constantemente e na sequência. A Polícia Militar sempre está conosco e nos acompanhará.

O itaunense tem o hábito de não acionar a seta em conversões. Como fica essa questão?
A questão é muito cultural. São práticas, hábitos, que precisam ser trabalhados. Nesse aspecto temos de envolver até mesmo o pessoal das auto-escolas. O trânsito é pautado em um tripé: educação, engenharia e fiscalização. Aqui no departamento temos como pilar que a educação e o preparo tem de vir antes da punição. Se a gente tem uma campanha interessante e realmente efetiva, a população percebe o recado.

Vereadores entraram com projetos de lei para retornar a venda fracionada de talões e a anulação das notificações emitidas pelo Zona Azul Rápida (ZAR). Qual a sua avaliação?
Só recebemos auto de infração preenchidos e formulados pela Polícia Militar. Eles são os agentes próprios para isso. Se não forem eles, não existe infração. Ao chegar no departamento, observamos se o auto foi preenchido corretamente. Se não for preenchido, com erro ortográfico ou sem número, por exemplo, a infração cai. Estando a infração correta, ela entra no sistema e a pessoa é notificada. Notificada, a pessoa tem prazo para entrar com recurso na JARI, que pode ser deferido ou não. Todo esse processo tem de se tranparente. Uma das minhas ações ao chegar foi pedir para colocar do lado de fora da DMTT uma explicação com o passo a passo para entrar com recurso na JARI.

O contrato com a concessionária do Rotativo, IT2B, será modificado?
Estou nesse momento analisando a licitação, porque temos de seguir o que acontece em outras cidades em relação a isso (venda do Rotativo). Belo Horizonte, Betim e Contagem tem a possibilidade de comprar o Rotativo pelo aplicativo ou o talão. Aqui tem de ser assim também. Estou analisando a possibilidade de fazer um aditivo nesse contrato para ter a venda pelo papel. Nem todo mundo que tem telefone consegue baixar o aplicativo.

Quando o talão volta a ser vendido nas ruas?
Hoje tem realmente só a possibilidade de baixar o app e estacionar, mas não vai ser só assim. Veremos outra possibilidade. Acabei de chegar e preciso de um tempo para resolver essas questões. Prezo muito pela pessoa e ela tem de ser atendida e esclarecida. Nós como servidores temos de estar a disposição da população para explicar tudo. Todas as ações do Trânsito são para segurança. O contribuiente tem realmente vários direitos que precisam ser colocados em prática. O trânsito não pode ser punitivo.

One thought on “Entrevista: Cíntia Valadares, nova gerente da DMTT em Itaúna – “O trânsito não pode ser punitivo”

  1. Em discussão ontem dia 20/05/20, através do 08007555001,com a empresa ZAR, responsável pelo rotativo na cidade. Eu disse ao atende e pedi para repassar aos responsáveis pelo sistema na cidade de Itaúna.
    Não se pode punir o cidadão sem oferecer o trabalho de forma eficaz.
    Não se encontra com facilidade um agente da ZAR para comprar o rotativo, mas ele aparece para punir o cidadão com multa, que se não for quitado no prazo estipulado será encaminhado a autoridade de trânsito municipal, para lavratura do auto de infração de trânsito e aplicação das sansões previstas no CTB.
    É preciso rever a aplicação do rotativo na cidade de Itaúna.
    Sou a favor do rotativo, mas desde que toda população tenha acesso a compra dele.
    Não se pode implantar esse tipo de projeto na cidade sem estar preparado para oferece-lo.

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