Entrevista: Marcinho Hakuna, pré-candidato à Prefeitura – “Alguma coisa de ruim aconteceu na Câmara”

Bruno Freitas
@viuitauna

Presidente da Mesa Diretora da Câmara de 2017 a 2018, o vereador e músico Márcio Gonçalves Pinto, o Marcinho Hakuna (PSL), é um dos nomes apontados na pré-disputa à Prefeitura em 2020. Ex-assessor de Neider Moreira (PSD), Hakuna admite um distanciamento político com o prefeito, situação, segundo ele, iniciada pela dispensa dos cobradores no transporte coletivo, e avalia que a atual gestão construiu um discurso de mudança que não conseguiu materializar.

Alinhado com os pensamentos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com quem gravou vídeo em Brasília, nas últimas eleições, o vereador defende a valorização da família e critica o desgaste gerado pelas recentes denúncias de corrupção na Câmara, dizendo que “Itaúna não merecia passar por isso”.

Hakuna diz ainda ser contra a política de desenvolvimento pautada por concessão de terrenos à empresas e visualiza que, passada a pandemia de COVID-19, o próximo gestor do Município terá de ser responsável e criativo. Confira a entrevista ao @viuitauna:

Nas próximas eleições, você já decidiu se sairá como prefeito ou vice?
Estou em construção permanente. Tenho tentado galgar passo a passo. Atuo na política há 25 anos e boa parte deles foi nos bastidores. Quando decidir ir para a linha de frente, preferi um caminho natural. Claro que numa disputa majoritária, você não se coloca como vice, mas sim prefeito. É isso o que as pessoas querem, que os pré-candidatos se posicionem. A política de modo geral precisa de nomes. Temos poucas opções de candidaturas consistentes. Se vou ser vice ou prefeito, isso é um conjunto de fatores. Para criar força é preciso aglutinar.

Neste contexto, qual será o fator decisivo para uma possível candidatura?
Os apoios, naturalmente. Porque você não consegue criar uma ideia, até em função do pouco tempo (de campanha) e da pandemia. Talvez a dilatação do prazo (das eleições) seja benéfica. Conseguir superar, pelo menos, esse medo. As pessoas vão começar a pensar na política de forma mais oxigenada, tranquila e racional.

Nas eleições de 2018, como candidato a deputado federal, você se aproximou do Bolsonaro, passando a presidir o PSL em Itaúna. A relação continua próxima?
Tenho um perfil de direita, embora os extremos me preocupem. A economia precisa ser aberta, o comércio ser livre. A valorização da família, há muito tempo não deveria ter ser perdido. As pessoas estão perdendo completamente a referência. Precisamos pensar em um desenvolvimento social em que as pessoas contribuam mais com o processo. Na minha campanha o Bolsonaro também estava no PSL. Ele mesmo disse que não acredita em ideologia partidária. Ela se perdeu no tempo, não existe mais. Meu primeiro partido foi o PPS, hoje um partido socialista.

Como ex-presidente da Mesa Diretora, como avalia as denúncias de corrupção na Câmara?
Tivemos dois anos bastante produtivos, de pouca turbulência e muita sintonia com a cidade, de harmonia com a administração. Avalio que foram dois anos muito bons. Por acaso, estava na presidência junto (dos vereadores) Da Lua e Giordane. Não posso deixar de dividir. Nós tínhamos os mesmos vereadores. É difícil precisar (o que desandou). Mas a gente vê que alguma coisa de ruim aconteceu. A cidade de Itaúna não merecia passar por isso. Poderia ter sido poupada. O Legislativo itaunense tem um passado muito interessante. Precisamos reconstruir a imagem da Câmara.

Enxerga uma figura conciliadora em Itaúna? Como está a política na cidade, hoje?
O Neider construiu um discurso de uma mudança que ele não conseguiu materializar. Num momento em que as pessoas buscavam algo que não fosse o prefeito da época. Isso era latente. Ele (Neider) não precisava ter se submetido a determinadas situações, pessoas, o que causou um impacto negativo no meu conceito da gestão.

Como ex-assessor do prefeito, você sempre foi próximo. Houve uma ruptura com o grupo político dele?
Sempre tive uma postura de defender o que acredito ser correto. Trabalhei com o Neider por 12 anos e em vários momentos fizemos campanha apoiando prefeitos distintos. Sempre tive esta independência. Sabia que isso incomodava a muitos. Importante falar que é uma questão que passa pela gratidão. Sou grato ao Osmando lá atrás, participei de duas campanhas dele. Com o Neider agreguei conhecimento. Do meio do ano passado, tem um momento que foi a ação que ele entrou contra a minha lei do acúmulo de função dos cobradores (no transporte coletivo). Quem deveria ter entrado com a ação era o sindicato. Depois veio a CPI da ViaSul, em que ficou combinado que os vereadores ficariam, teoricamente, livres para assinar. Naquela semana o Neider disse em reunião de secretariado que sabia quem eram os adversários. Já tínhamos algumas diferenças de pensamento e opinião. Importante frisar que não é briga, nunca foi briga.

Hakuna e Neider tem um perfil de eleitor parecido? Isso pode influenciar nas urnas?
Algumas pessoas tem esta percepção. Tenho uma ideia diferente, mas é uma coisa de perfil. Sou da Vila Vilaça, minha infância e adolescência foi toda ali. Estudei no Estadual e trabalhei com propaganda volante por muito tempo. A música me conecta e desde a época do Osmando fiz muitos showmícios. Meu nome é lembrado em todas as classes, tanto que fui votado em todas as urnas, inclusive na zona rural. Diferente do que boa parte das pessoas imaginam, não usei o fenômeno Bolsonaro. Se tivesse usado, estava eleito.

Sobre a CPI da ViaSul, iniciada com a comissão que você presidiu, em abril de 2019. Trará algum resultado?
É difícil prever. Voltei agora para a CPI e ela precisa acontecer. Existem irregularidades e um exemplo prático é a lei dos cobradores. Quando a Autotrans (atual ViaSul) assinou a concessão, em 2016, no contrato falava que tina de ter os cobradores. De lá para cá em nenhum momento a concessionária cumpriu essa cláusula. A grande dificuldade é a questão técnica. O ideal seria a Câmara contratar uma consultoria isenta para analisar o contrato e a planilha de custos. Tem de haver uma compensação (na tarifa) pela demissão dos cobradores e a queda no preço dos combustíveis.

A COVID-19 trouxe uma série de desafios. Quais são as saídas para Itaúna?
A pandemia foi algo inimaginável. O próximo gestor terá de ser responsável e criativo. O reflexo na economia e na arrecadação será determinante. Sempre fui um crítico da política de desenvolvimento dos últimos governos. Essa coisa de simplesmente conceder um imóvel público a alguém sem que efetivamente haja uma política que gere emprego e renda.

Cidadãos, inclusive, criticam a inércia de alguns vereadores. Em 2020 haverá uma grande renovação no Poder Legislativo?
Se você perguntar, 100% das pessoas dirá que sim. Mas sabemos que, infelizmente, a memória popular é muito curta. É tão curta que na hora de votar as pessoas não se preocupam em estudar os candidatos. É aí que os atuais ocupantes tem uma vantagem sobre os demais. O que não deixa de ser um erro fatal. Tenho visto nomes muito bons, de pessoas engajadas. É o momento de se estudar os candidatos.

O gerente exonerado após a Operação Carona Sinistra está de volta à Câmara. Qual é a sua opinião?
Estamos hoje a mercê das interpretações. Em algum momento alguém fez uma denúncia, acatada. O que gerou uma investigação e uma decisão judicial. Ficamos a mercê de interpretações de terceiros. Isso acaba sendo prejudicial.

O uso de dinheiro público e o fato de um dos jornais investigados ser atrelado à agência de publicidade, o preocupa?
Com certeza. Tudo aquilo que coloca o erário em risco. Quando você adere a uma ata precisa provar se é vantajoso, o que é algo complexo, em todos os poderes. Em algum momento o próprio Poder Judiciário ficou a mercê disso, bem como o Legislativo e o Executivo Brasil afora. Isso precisa ser olhado com mais cautela.

A Câmara aprovou 35 projetos de concessão de terrenos a empresas em 2019. Essa política de desenvolvimento pode beneficiar determinadas pessoas?
Pode. O benefício precisa ser para quem merece. A pessoa que empreende e arrisca num país absolutamente injusto, com uma carga tributária muito grande, onde tem leis que emperram e criam um ambiente de medo muito grande. Tudo isso é muito difícil para o empresário. Ainda assim simplesmente dar um terreno é uma política muito chula, muito fraca. A secretaria de Desenvolvimento deveria criar um portfólio da cidade e buscar mundo afora novas possibilidades. Mas antes disso criar uma política interna para valorizar as empresas locais e dar condições para elas crescerem.

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