Opinião: O estudo remoto e o desafio da verdadeira aprendizagem na educação brasileira

Mônica Regina dos Santos*

Tenho recebido telefonemas e mensagens de professores, extremamente competentes e comprometidos que, fortemente indignados e abalados emocionalmente, pedem que eu ajude a denunciar as muitas incoerências do estudo remoto! Mesmo os estudantes que estão tendo pleno acesso às aulas e às atividades, na sua imensa maioria, não estão aprendendo como poderiam e deveriam, e muitos, dentre estes, não estão fazendo as atividades. Embora a imensa maioria dos professores esteja se sacrificando, aprendendo e trabalhando ainda mais nesse momento e nessa modalidade, a realidade dos estudantes, de suas famílias e de muitos professores inclusive, é incompatível com essa modalidade de ensino, especialmente nesse momento que é de intenso stress social, onde os pensamentos e sentimentos de insegurança, medo, descrédito e indignação estão fortemente presentes no imaginário coletivo.

As consequências dessa experiência, repleta de gargalos que estão sendo desconsiderados, serão dolorosas e as veremos nos próximos anos! Muitos dos nossos estudantes já têm uma defasagem imensa na aprendizagem e o estudo remoto só vai agravar e aprofundar essa defasagem, a exclusão e a desigualdade, já tão abissais! Some-se a isso o autoritarismo, a frieza e a indiferença de alguns gestores escolares e pedagogos que, mais preocupados em cumprir e fazer cumprir ordens, por mais inadequadas, injustas e ineficientes que elas sejam, acabam demonstrando pouco compromisso com a verdadeira aprendizagem dos nossos alunos. No papel, e só no papel, tudo vai ficar lindo!

Muitos professores, pais e estudantes estão percebendo isso, mas não têm coragem de se manifestar porque o peso da bota do estado no pescoço deles é gigantesco! A grande maioria de nossas crianças e adolescentes não está conseguindo se adaptar a essa modalidade; muitos não têm acesso à internet e/ou à Rede Minas, e, portanto, são pouquíssimos os que estão conseguindo realmente aprender, nessas condições. Muitos pais estão perdidos, desorientados, alguns desesperados; professores estão adoecendo; mas parece que ninguém do estado, está propondo repensar essa estratégia! Eu estou propondo: precisamos avaliar o trabalho feito até agora e repensar o estudo remoto!

Desde o início propus que esse momento fosse usado para trabalhar com o incentivo à leitura e a revisão de conteúdos já trabalhados! Essas duas vertentes de trabalho somadas, se estivessem sendo desenvolvidas, contribuiriam infinitamente mais para a aprendizagem e o desenvolvimento de nossos estudantes. Dos professores e demais servidores deveria estar sendo cobrado estudo, estudo, estudo e planejamento de aulas e atividades realmente diferenciadas para o momento do retorno à Escola.

Ressalte-se ainda a pressão que o estudo remoto, adotado pelo Estado, representa sobre os municípios; de tal forma que as secretarias municipais que ainda não adotaram as aulas online, estão sendo pressionadas por pais que acham que seus filhos estão sendo prejudicados por não estarem tendo esse tipo de aula durante a pandemia; como se seus filhos tivessem o direito a algo que não está funcionando com os que estão tendo!

São muito grandes a confusão, a desorganização, a desinformação e a pressão sobre professores, estudantes, pais e até sobre pedagogos e gestores mais esclarecidos!

Precisamos reagir a isso; o povo não ganha NADA com essa tentativa, mal improvisada, que está sacrificando a grande maioria, senão todos. Uma educação “de mentirinha” é o pior que o estado pode oferecer aos seus cidadãos!

*Analista Educacional da Superintendência Regional de Ensino

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